Hay un universo de pequeñas cosas que solo se despiertan cuando tu las nombras.

22 janeiro 2008

Só porque às vezes é preciso mudar.


Todas as noites ela tem o mesmo ritual: alcança uma caneta, arranca uma folha de um caderno velho e tenta despejar-lhe palavras: a hora imaculada. Lembra-se de tudo perfeitamente quando se deita sobre a almofada quente.
Com os olhos cerrados que um dia iluminaram sonhos nunca antes vividos nem imaginados, a boca semi-aberta profere monossílabos em um ritmo acelerado.
E ela lembra que algumas vezes já se sentiu viva para logo depois se deixar morrer aos poucos, que já buscou palavras para explicar o inexplicável e já se permitiu não explicar o que merecia explicação.
Lembra-se também que já reergueu emoções no mesmo instante em que fizeram ruir o castelo dos seus sonhos.
Que já foi criança, cresceu e ainda é criança, mas também já foi adulta mesmo na infância em cada decisão que tomou.
Todas as recordações são nítidas, como quando observa um Rembrandt (um dos seus preferidos), e extasia-se com a presteza com que percebe a riqueza de detalhes. Era como se ela estivesse com o pincel sobre a tela ainda molhada, e ela mesma fosse a tela. E aí é só lembrar-se do cheiro que a acompanhava ao dormir, da sua respiração ofegante quando sonhava, ou do que acordava murmurando no meio da noite pra lembrar-se do seu rosto que tenta desenhar agora, tantos anos depois de se deixar.
Depois de se deixar porque ela é outra agora, outra que percebeu que os contrastes construíram a sua vida enquanto ela achava que quem a estava construindo era ela; outra que percebeu que foi nesse sentir na pele a diferença entre viver e sobreviver que hoje pode afirmar que não mais apenas respira, e sim que se permitiu viver.
Só porque às vezes é preciso mudar.
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